Recomeçar depois do término: o desafio de retomar a própria vida
Encerrar um relacionamento amoroso é, muitas vezes, uma das experiências mais desorganizadoras da vida psíquica.
Mesmo quando a decisão parte de nós, há sempre algo que se perde. Um projeto, uma rotina, uma forma de existir ao lado do outro.
Não é à toa que tantas mulheres relatam dificuldade em retomar a vida após o fim — sair sozinha, reencontrar amigas, viajar, se divertir… tudo parece exigir uma força que, por um tempo, parece adormecida.
Na perspectiva freudiana, o luto é o processo psíquico necessário para que o sujeito possa se desligar de um objeto amado. Freud descreve, em Luto e Melancolia (1917), que o luto implica uma retirada gradual da libido — essa energia investida no outro — para que, aos poucos, ela possa ser reinvestida em novos laços, novos desejos, novas experiências.
Mas esse movimento não é simples: envolve dor, resistência e, muitas vezes, uma sensação de esvaziamento que faz com que o mundo pareça sem cor.
É comum que, nesse período, surjam sentimentos ambíguos: saudade, raiva, culpa, medo.
A mulher pode se ver dividida entre o desejo de seguir em frente e a dificuldade de se desprender do que já foi vivido.
Muitas se perguntam: “Quem sou eu agora, sem aquele vínculo que antes me definia?” — e essa pergunta, embora dolorosa, marca o início de um reencontro consigo mesma.
A terapia, nesse contexto, oferece um espaço de elaboração.
Um lugar onde é possível dar sentido ao que se viveu, compreender as repetições, olhar para as próprias escolhas e resgatar o desejo que, por vezes, ficou aprisionado na relação.
É um processo de reconciliação com a própria história — de acolher a dor, mas também de redescobrir o prazer de existir como sujeito de desejo, não apenas como parte de um casal.
Recomeçar, então, não é apagar o passado, nem negar o amor que existiu.
É se permitir viver outras versões de si, com mais autonomia e consciência.
É recuperar o prazer de sair, rir, dançar, viajar, encontrar amigas — não porque é preciso “superar”, mas porque é possível se reencontrar.
Há vida após o término.
E quando o luto é vivido com cuidado e escuta, o amor que antes se voltava ao outro pode se transformar em algo mais profundo: o amor-próprio, que sustenta e dá novo sentido à caminhada.

